
O Fundador do Aikido - Morihei Ueshiba
A história do fundador do Aikido – Prof. Morihei Ueshiba é uma das mais fascinantes do estágio moderno das artes marciais. Era o filho mais velho do Sr. Yoroku Ueshiba. Nasceu no dia 14 de dezembro de 1883 em Saigo, município de Tanabe (atual Wakayama – cidade perto de Osaka, Japão). Até os 15 anos tinha uma débil constituição física. Era baixo e com pouca resistência.
Quando jovem, várias vezes viu seu pai ser surrado por adversários políticos. Isso o impressionou profundamente e o Mestre Ueshiba jurou para si mesmo que ficaria forte e não poupou esforços para isso. Aos vinte anos já tinha adquirido excelentes condições físicas através de exercícios. Aprendeu jiu-jitsu do estilo Kitoryu com o Prof. Torawa Tokusaburo.
Com vinte anos recebeu o diploma de seu professor Sakai Masakatsu de espada da Escola Yagyu-Ryu.
Aos 21 anos se alistou como praça no Exército na guerra Japão-Rússia. Seu desempenho na campanha foi tal que ao término da guerra, seus comandantes visitaram o então sargento Ueshiba, convidando-o para entrar na Academia Militar. Porém, não se interessou, pois seu caminho achava-se em outra parte.
Durante meio ano ressentiu-se da fadiga da guerra e permaneceu adoentado com beribéri. Finalmente se recuperou e decidiu tornar-se um colonizador na nova fronteira – Hokkaido. O desejo de cultivar a terra, trocar de ares e melhorar sua saúde impeliram-no para o norte do Japão, região fria e inóspita naquele tempo.
Em 1910, chegou a Hokkaido e começou a cultivar a terra num lugar chamado Shirataki. Recuperado da doença, renovado o espírito e no vigor dos trinta anos o prof. Ueshiba torna-se líder da comunidade, faz parte do conselho da prefeitura e participa intensamente nas reivindicações para melhoria do vilarejo. É nesse tempo em Hokkaido que ele encontra o mestre Sokaku Takeda do Daito Ryu jiu-jitsu. Este mestre era um homem pequeno de grande força, bastante rude e severo, de difícil convivência.
Mestre Takeda viu em O-Sensei um aluno excepcional e de grande autocontrole para receber os ensinamentos deste estilo de jiu-jitsu que só era transmitido muito particularmente. Não foram fáceis os tempos de aprendizagem! Ueshiba submeteu-se ao severo autoritarismo do professor, de corpo e alma. As aulas não tinham horário marcado, podiam ocorrer a qualquer hora do dia ou da noite, tinha que cortar lenha, preparar as refeições e os banhos do professor Takeda. Além disso, conta-se que Ueshiba pagava 300 a 400 yens por técnica ensinada, o que era um valor considerável naqueles dias.
Assim mesmo, os dias gastos no aprendizado eram irregulares. Em cinco anos o Mestre Takeda somente dedicou cinco de cada 100 dias para o ensino. O resto do tempo o aluno tinha que praticar sozinho.
Com a idade de 33 anos Mestre Ueshiba recebeu o título de mestre em Daito Ryu Aiki Jiu-jitsu.
Algumas técnicas básicas do Aikido Moderno derivam deste aprendizado efetuado pelo Prof. Ueshiba. Todavia, as técnicas mais antigas remontam a uns 700 setecentos anos.
O Dayto Ryu data da era Kamakura (1187-1333) e acredita-se que foi desenvolvido por Minamoto Yoshimitsu que transmitiu à sua família e foi passando de geração em geração até que com o correr dos tempos chegou ao clã dos Takeda.
Foi com base nesse legado que o mestre Ueshiba transformou, desenvolveu e criou as técnicas para o Aikido atual, substituindo o termo "jitsu" (arte para a guerra) pelo termo "do" (caminho espiritual), elevando-o de uma arte marcial para um princípio superior.
Em 1918, o Prof. Ueshiba recebeu a notícia que seu pai estava muito doente. Doou seus bens para o Mestre Takeda e foi embora da província de Shirataki. Deixou para trás a terra que cultivou, a vila que ajudou a construir, os amigos, o prestígio social e as propriedades.
Portanto, o Prof. Ueshiba retornava nas mesmas condições em que chegara: sem dinheiro, sem patrimônio, porém com o espírito revigorado.
No trajeto de trem até a casa de seu pai, ouve falar do Rev. Onisaburo Deguchi, fundador da religião Oomotokyo. Decide, então, visitar o reverendo em Ayabe, Kyoto e fazer preces para a recuperação de seu pai. Esse encontro com Reverendo Deguchi marcou profundamente o Prof. Ueshiba. Desde criança O-Sensei teve extraordinário interesse pelo estudo espiritual, que aumentava à medida que adquiria maior compreensão das coisas. Aos sete anos já tinha estudado com o monge Fujimoto; com dez anos estudara Zen Budismo no templo Homanji.
Depois do encontro com Deguchi, rumou para casa de seu pai. Ao chegar tomou conhecimento que ele tinha morrido. Chocado com a morte de seu pai, pessoa por quem nutria profunda afeição, seu comportamento foi fortemente modificado. Retirou-se para as montanhas nos arredores de Ayabe com a família e passou a acompanhar o reverendo Deguchi. É nesse período que o Rev. Deguchi convida o Prof. Ueshiba para irem à Mongólia estabelecerem novo ponto de difusão da religião. O Prof. Ueshiba aceita e partem juntos. Todavia, problemas políticos na China ocasionam grandes dificuldades. O grupo é perseguido e capturado, encarcerado e torturado. Após cinco meses de negociações, o consulado japonês consegue a libertação dos sobreviventes. Ao retornar dessa aventura, O-Sensei passa a morar em Ayabe, sede central da Oomoto. Encorajado por Rev. Deguchi, isola-se do mundo e dedica-se à meditação e ao estudo da essência do Budô.
O Rev. Deguchi identifica o grande talento do Prof. Ueshiba e incentiva-o a transformar em dojo uma parte da casa de Deguchi. Esse primeiro dojo de apenas 18 tatames – Ueshiba Juku – atrai, além de praticantes da Oomoto, pessoas de fora, principalmente oficiais de marinha da base Maizuru próxima.
Os oito anos passados nas montanhas de Ayabe foram decisivos para o desenvolvimento espiritual do Prof. Ueshiba: estuda filosofia Xintoísta (origem da Oomoto) e domina o conceito de Koto-Tama (algo similar aos mantras). É durante esse período de meditação que lhe começam a surgir perguntas tais como:
- “De que serve vencer aos outros, seja com uma técnica ou outra?”;
- "Se hoje ganhei, amanhã ou mais tarde perderei. O vencedor de hoje é o perdedor de amanhã";
- "O campeão forte de hoje, amanhã se defrontará com um adversário mais jovem e perderá;
- "Isto significa, então, que a vitória é algo relativo! Será que existe a vitória absoluta? Que importância tem para cada um?"
Isolado nas montanhas, longe do mundo cotidiano, vivendo como um eremita, praticava sozinho com o bokken (espada de madeira), desferindo golpes no ar e ao mesmo tempo se perguntava: “O que é uma arte marcial?”
Então, um dia, em 1925, um oficial de marinha, perito em espada, veio visitá-lo em Ayabe. A conversa termina em discussão e decidem acertar a diferença em um duelo de espada de madeira. O oficial ataca seguidamente, mas UESHIBA evita, esquivando-se a cada golpe do adversário (mais tarde Ueshiba declararia que captava sinais luminosos para onde a espada do seu oponente bateria!).
Incapaz de atingi-lo e cansado, o homem acaba desistindo. Com o intuito de descansar daquele combate, Ueshiba vai para o jardim de sua cabana, e ao olhar para o céu, subitamente tem uma estranha vibração. Eis aqui, em suas próprias palavras, o acontecido:
"Tive a sensação de que o Universo inteiro entrava em vibração e uma energia de cor dourada se elevava da terra e se enrolava como um novelo no meu corpo, transformando-o em dourado. Nesse instante meu corpo e meu espírito tiveram uma clara consciência do pensamento de Deus, o criador do Universo".
Naquela ocasião percebeu que o mundo inteiro era seu lar e de que o sol, a lua e as estrelas lhe pertenciam, libertando-se, assim, de todo o desejo de poder, fama e riqueza.
Essa experiência ocorreu quando o Prof. Ueshiba tinha 42 anos, num dia da primavera do ano de 1925. A partir de então, quando se levantava ao alvorecer, rendia homenagem à Natureza e fazia esta oração:
“Este meu coração está agora outra vez novo e vou oferecê-lo aos meus irmãos em vida”.
Para o Prof. Ueshiba, o Budô não consiste em abater o adversário pela força, nem tampouco é um instrumento para conduzir o mundo à destruição pelas armas. O verdadeiro Budô consiste em aceitar o espírito do Universo, em manter a paz no mundo, em produzir, proteger e cultivar convenientemente todas as coisas da natureza.
Considera-se ser dessa época, 1925, a mudança de Aikijutsu para Aikido.
O Prof. Ueshiba passa a dedicar-se, então, as constantes viagens a fim de atender a convites de interessados em ver sua arte marcial. Em 1927 muda-se para Tóquio e começa a prestar serviços à família Imperial, ensinando Aikido. Nessa época é contratado para lecionar na Academia Naval.
O número de alunos aumenta fortemente. O Prof. Jigoro Kano, fundador do Judô, visita o Prof. Ueshiba e, admirado pela técnica do mestre, designa três alunos para estudar o Aikido. Era preciso então construir um local próprio para a academia.
Em 1931 consegue fundar seu dojo, em Tóquio, com o nome de Aikido Ueshiba Dojo Kobukan. A academia tem 80 tatames. O número de alunos fica entre 30 e 40 pessoas. A maioria graduada em Judô, Esgrima ou outra luta. Esses alunos, cheios de vitalidade, treinam duro e intensamente de tal modo que a Kobukan é apelidada de Dojo do Inferno. Eram alunos jovens, muito concentrados no microcosmo da academia e isolados dos afazeres diários. Eram "uchideshi" (estudantes internos).
Foram alunos dessa época:
- Hajime Iwata – Kodokan, Universidade de Waseda,
- Minoru Mochizuki – Kodokan,
- Aitoshi Murashige – Kodokan,
- Rinjiro Shirata,
- Zensaburo Akazawa,
- Kenji Tomiki e
- Gozo Shioda.
Posteriormente, por volta de 1940-1946, ingressam:
- Koichi Tohei,
- Kisaburo Osawa,
- Morihiro Saito e outros.
Logo depois é construído o dojo especial de Iwama (Ibaraki), que combina o treino em um dojo aberto e ao ar livre com o cultivo da terra. O Prof. Ueshiba, por seu gosto em assistir aos diversos dojos que iam surgindo não se interessava em administrar academias. Sua principal intenção era praticar. Assim, estava sempre viajando e visitando os dojos de seus alunos.
O tempo passa. Explode a Segunda Guerra Mundial. Com isso, o Prof. Ueshiba vê vários de seus alunos serem convocados e partirem para guerra. Decide, então, se retirar para a área rural e vai para a academia de Iwama (Ibaraki), onde constrói uma ermida.
Com a vitória dos americanos, as tropas de ocupação tornam proibida a prática das artes marciais até 1948. É a partir daquele ano que começa o ressurgimento do Aikido. Poder-se-ia dizer, talvez, que seria o início da segunda fase dessa arte marcial.
A partir daí a Academia Central (Hombu Dojo) começa a apoiar a ida de professores para o exterior, para efeito de divulgação.
- Para os Estados Unidos e Hawai, vão Yoshimitsu Yamada e Koichi Tohei;
- Para a França, seguem Mochizuki, Nakazono e Ono;
- Para a Ásia foi Yamaguchi.
- Para o Brasil vêm Teruo Nakatani e Renshi Kawai (para São Paulo).
Até poucas semanas antes de sua morte, o Fundador era o instrutor responsável pela turma das 6:30 h da manhã na Academia Central.
O Prof. Morihei Ueshiba faleceu em 26 de abril de 1969 com a idade de 85 anos. Suas cinzas foram enterradas em Tanabe, o cabelo é preservado em Iwama, Kimano, Ayabe e no Hombu Dojo. Sua mulher, Hatsu, morreu em junho do mesmo ano.