Façamos como as flores: tudo natural e belo!

Kisshomaru Ueshiba

As ameixeiras vermelhas no nosso quintal estão agora em plena floração.

A vermelhidão delas nos chama muito a atenção. Há flores durante o ano todo no quintal. Durante março e abril,  camélias, marmelos japoneses e lilases continuam a florescer. Além disso, é muito prazeroso ouvir o som cristalino do rouxinol em concerto com outros pássaros.

Após a prática matutina, quando eu me sento a meditar junto com  aproximadamente 100 estudantes, a canção do rouxinol nos faz esquecer que estamos no meio de uma cidade. Tal pureza e claridade nos tocam como uma coisa bela.

O Fundador amava coisas belas e puras. Por esta razão, ele se fundia com o “kami” (divindade) onde quer que vivesse e tentava envolver um elemento de beleza em sua demonstração de reverência. Deste modo, é compreensível que “Aiki” (energia unida) se torne “Aiki” (amor) e “Daiwa” (harmonia universal) se torne “Daiai” (amor universal), finalmente culminando em um hino à beleza inerente à raça humana.

E, se o Fundador tivesse um quintal do tamanho da testa de um gato para trabalhar, ele iria, da mesma forma, cultivar plantas e flores, zelar pela floração e cultivar a beleza da natureza. Damos continuidade à esta tradição no nosso quintal.

A atividade no mundo do Aikidô está crescendo continuamente. Junto com o mês de abril chegam grupos de estudantes de empresas e escolas que vêem no Aikidô um caminho adequado para seus novos começos. Além disso, indivíduos não associados a nenhum grupo iniciam treinamento em Aikidô como um meio para um novo começo. Quando eu venho para treinos no Hombu Dojo repleto dessas pessoas, eu sou naturalmente tentado a enfatizar o modo como Aiki deveria ser, tanto quanto sua essência. Contudo, é desnecessário pregar a teoria do Aikidô em voz alta  para aqueles que já escolheram perseguir o caminho Aiki por iniciativa própria.

Uma característica da sociedade moderna é que, quando as pessoas não entendem a teoria de alguma coisa, elas tendem a não se empenhar nesta atividade. Defrontados com esta situação, nós nos frustramos e tentamos convencer, de todas as formas, alguém sobre algo. Tal inútil tentativa de impor um ponto de vista provoca uma reação. De fato, a reação desencadeia uma reação em cadeia, por sua vez destruindo a boa intenção original. Desde o início, a prática do Aikidô dá mais ênfase ao treinamento do que à teoria. Nesta conexão, é de máxima importância uma compreensão experimental no treinamento.
Eu acredito que nós não devemos carregar o Aikidô no Hombu Dojo com teoria prolixa como os samurai de outras épocas eram confinados em suas vestes formais desajeitadas.

A prática deveria continuar nesta atmosfera especial de beleza natural seguindo a tradição do Aikido Hombu. É desejável empregar métodos de ensino que levem à compreensão individual no contexto de uma situação de treinamento livre.

A beleza, como a da flor, que permeia esta localização simpática, atrairia qualquer pessoa inconscientemente, seja ela um pássaro ou qualquer outro, e o motivaria a experimentar divertimento aqui.

O mundo do Aikidô, que está sempre recebendo novos indivíduos, deve empenhar-se na criação desta atmosfera de harmonia universal e amor, na qual possamos praticar de uma maneira aberta. Eu acredito que aqueles que tomarem contato com tal atmosfera irão sentir a benevolência do Aiki como uma experiência completa, muito além do que somente através de seus intelectos, e irão considerar Aiki como uma busca infinita.

Criar tal atmosfera é a responsabilidade de todos aqueles que praticam Aikidô, inclusive eu. Este ambiente de treinamento somente pode ser criado através de um contínuo esforço para compreender a essência do Aikidô. No início deste novo ano, eu gostaria de dar um passo firme adiante no meu entendimento da essência da natureza e do amor universal do Aikidô.

O artigo precedente apareceu na edição de 10 de abril de 1975 de “Aikido” –  jornal mensal publicado pelo Aikido Hombu Dojo em Tóquio. Traduzido do japonês por Stanley A. Pranin e Katsuaki Terasawa.

Kishomaru Ueshiba – Aiki News (1975)

há 10 anos 6 meses